Anúncio de tarifa de 50% dos EUA acende alerta no mercado de combustíveis
Para especialista, o cenário pode abrir ainda mais espaço para o diesel de origem russa
O anúncio feito pelo presidente Donald Trump sobre a imposição de uma tarifa de 50% em relação a todos os produtos importados do Brasil, incluindo petróleo e derivados, trouxe incertezas ao mercado de combustíveis.
A medida está prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto, mas ainda pode sofrer alterações.
O especialista em combustível do Gasola, Vitor Sabag, destaca que, no campo das exportações, os Estados Unidos representam atualmente entre 10% e 12% das exportações brasileiras de petróleo, segundo dados de comércio exterior.
"Caso a tarifa seja efetivada, essas operações se tornariam economicamente inviáveis, forçando o Brasil a redirecionar parte de sua produção para mercados alternativos, como a Ásia e a União Europeia. Já no caso das importações, o impacto potencial pode ser ainda mais significativo", comentou Sabag.
Em abril, o Congresso Nacional aprovou a Lei de Reciprocidade Econômica, que autoriza o governo brasileiro a adotar contramedidas contra ações unilaterais que prejudiquem a competitividade do país.
Na análise do especialista, se o presidente Lula decidir aplicar essa prerrogativa, o Brasil pode impor tarifas sobre o diesel importado dos EUA — que atualmente representa cerca de 23% de todo o diesel importado para suprir a demanda interna.
Esse cenário pode abrir ainda mais espaço para o diesel de origem russa, que já detém cerca de 60% das importações brasileiras, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Dólar
Além das implicações comerciais, o anúncio teve reflexos imediatos no câmbio. O dólar subiu cerca de R$ 0,10 desde quinta-feira (10), movimento atribuído em parte ao aumento da percepção de risco, embora outros fatores também contribuam para a volatilidade da moeda. Essa valorização do dólar tende a pressionar os preços do combustível importado que chega aos portos brasileiros.
Mudanças podem ocorrer a qualquer momento, dependendo das decisões do governo norte-americano e, principalmente, das ações do governo brasileiro nas próximas semanas.
O presidente Lula
O presidente Lula (PT) indicou que pretende responder às tarifas unilaterais com base na Lei de Reciprocidade Econômica.O governo Lula afirma que os impactos sobre a economia brasileira são reflexo de interferências políticas externas indevidas por parte de Trump, em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a StoneX, 34% da importação brasileira de gasolina no primeiro semestre de 2025 veio dos EUA. O país também forneceu 24% do volume internalizado de diesel.
Sem as importações dos EUA, o Brasil terá que recorrer a outros supridores, que têm custos logísticos e operacionais mais altos — caso da Europa e da Índia — ou são mais arriscados, como a Rússia.
O cenário tende a aumentar a pressão inflacionária nos preços e margens ao longo da cadeia de refino e distribuição, segundo o BTG Pactual. Entretanto, as perspectivas ainda são incertas, já que não há clareza se algum produto pode ficar isento das tarifas.